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Com ofertas de ações em baixa, empresas recorrem a debêntures

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Por Poffo & Henn

12 de junho de 2024

Emissões de dívida bateram recorde até abril e têm atraído empresas do setor de petróleo e gás antes de mudança de regra

O menor apetite do investidor pelo mercado acionário, provocado pela piora do cenário de juros, tem levado empresas a recalcularem a rota na hora de captar recursos. Em vez de lançarem ofertas de ações, estão dando preferência a emissões de debêntures, em especial os papéis incentivados que contam com benefício fiscal.

Sem nenhum IPO até o momento em 2024 — já são mais de dois anos sem aberturas de capital —, as emissões de ações têm se resumido a algumas poucas ofertas via follow-on, que somaram R$ 4,9 bilhões no acumulado do ano até abril, o pior início de ano desde 2016. Já as debêntures somaram R$ 110 bilhões no mesmo período, alta de 153,6% ante igual intervalo do ano passado, segundo dados da Anbima. Desse total, R$ 32,5 bilhões foram de debêntures incentivadas, volume recorde para o período.

“Muitas empresas de energia que poderiam ter captado recursos no mercado de ações acabaram emitindo dívida”, disse o executivo de um banco de investimento. “Mas tivemos leilões de energia e rodovias que, dependendo do tamanho do investimento, podem levar as companhias a acessar o mercado de ações no segundo semestre.”

Enquanto os estrangeiros continuam mais seletivos para investir em mercados emergentes diante do atraso na expectativa de queda de juros nos EUA, a desaceleração dos cortes de juros no Brasil posterga a volta dos investidores locais. Os resgates dos fundos de ações, que somam saída líquida de R$ 1,6 bilhão neste ano, tem deixado os fundos mais cautelosos para entrar em novas ofertas de ações.

Além disso, mudanças de regras adotadas em março no mercado de dívida, com a restrição para a emissão de alguns tipos de CRIs e CRAs, geraram uma migração de investidores para debêntures incentivadas, reduzindo o custo desses papéis para as empresas. E outras mudanças de regras nas próprias debêntures incentivadas, que devem entrar em vigor em junho e podem excluir setores como de petróleo e gás, estimularam empresas desses segmentos a anteciparem as emissões.

A Enauta, por exemplo, anunciou recentemente uma oferta de debêntures incentivadas de R$ 1,75 bilhão que pode chegar a R$ 2,1 bilhões. Os recursos serão usados para financiar as despesas com o Campo de Atlanta. Além dela, a Prio emitiu R$ 2 bilhões nesses papéis em fevereiro.

Já as operações de ações anunciadas no mês passado, como o block trade de R$ 2,2 bilhões da Rede D’Or e o aumento de capital de R$ 1,5 bilhão da Onococlínicas, não representam a retomada desse mercado, acreditam bancos ouvidos pelo Pipeline.

No caso do block trade da Rede D’Or, a operação só foi possível porque a ação tem liquidez, negociando com um volume médio diário em torno de R$ 16,8 milhões nas últimas semanas. O fundo de private equity Carlyle, que vendeu o montante, já vinha se desfazendo do papel e aproveitou a alta de quase 8% neste ano, até 21 de maio, na véspera da operação, para zerar a posição. O preço inicial do bloco saiu a R$ 29,44, ainda abaixo dos R$ 71 do follow-on realizado em 2021, o que acabou atraindo outros investidores.

Pelas regras da B3, as empresas podem vender até 5% do capital em uma operação de block trade, desde que o papel tenha liquidez. A expectativa é que os fundos de private equity usem mais essa saída para vender sua participação em empresas listadas dado que o cenário para venda para estratégico está mais complicado, disse um executivo de um banco de investimento estrangeiro.

Um banqueiro que esteve no mês passado em Nova York disse que os estrangeiros estão priorizando liquidez e a alocação em empresas operacionais e geradoras de receita. Com isso, vê pouca chance de um IPO no primeiro semestre, podendo ter alguma operação no fim de novembro, dependendo do cenário de juros nos Estados Unidos.

A próxima oferta de ações esperada pelo mercado é a da Sabesp, que pode movimentar até R$ 20 bilhões. A próxima etapa será definir o investidor de referência, que pode ficar com 15% do capital. Entre as empresas que têm mostrado interesse estão Aegea, Equatorial e IG4, e a expectativa é que a oferta seja realizada em julho e atraia investidores estrangeiros, afirma um banco que participa da operação.

Até lá, os bancos veem mais operações de aumento de capital privado ancoradas pelos acionistas para resolver a estrutura de capital das companhias, como aconteceu com Dasa, Oncoclínicas, Casas Bahia e Magalu.

Fonte: Pipeline

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Por Poffo & Henn

12 de junho de 2024